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Recife, Boa Viagem PE, Brazil
Sou psicóloga,me dedico inteiramente a este meu trabalho. Pós graduanda em Saúde Mental com enfoque em álcool e outras drogas. Abordagem Terapia Cognitiva Comportamental. Atendo em Aldeia,Ilha do Leite, Boa Viagem e Gravatá. (81)9963-3553

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Dos ficantes aos namoridos

Os amigos mais intimos que conhecem a minha história irão estranhar essa postagem, já morei 12 anos com uma pessoa,  hoje mais amadurecida entendo o que Martha Medeiros tenta passar, por isso resolvi postar e dividir com vcs. bjs

"Se você é deste século, já sabe que há duas tribos que definem o que é um relacionamento moderno.

Uma é a tribo dos ficantes. O ficante é o cara que te namora por duas horas numa festa, se não tiver se inscrito no campeonato “Quem pega mais numa única noite”, quando então ele será seu ficante por bem menos tempo — dois minutos — e irá à procura de outra para bater o próprio recorde. É natural que garotos e garotas queiram conhecer pessoas, ter uma história, um romance, uma ficada, duas ficadas, três ficadas, quatro ficadas... Esquece, não acho natural coisa nenhuma. Considero um desperdício de energia.

Pegar sete caras. Pegar nove “mina”. A gente está falando de quê, de catadores de lixo? Pegar, pega-se uma caneta, um táxi, uma gripe. Não pessoas. Pegue-e-leve, pegue-e-largue, pegueeuse, pegue-e-chute, pegue-e-conte-para-os-amigos.

Pegar, cá pra nós, é um verbo meio cafajeste. Em vez de pegar, poderíamos adotar algum outro verbo menos frio. Porque, quando duas bocas se unem, nada é assim tão frio, na maioria das vezes esse “não estou nem aí” é jogo de cena. Vão todos para a balada fingindo que deixaram o coração em casa, mas deixaram nada. Deixaram a personalidade em casa, isso sim.

No entanto, quem pode contra o avanço (???) dos costumes e contra a vulgarização do vocabulário? Falando nisso, a segunda tribo a que me referia é a dos namoridos, a palavra mais medonha que já inventaram. Trata-se de um homem híbrido, transgênico.

Em tese, ele vale mais do que um namorado e menos que um marido. Assim que a relação começa, juntam-se os trapos e parte-se para um casamento informal, sem papel passado, sem compromisso de estabilidade, sem planos de uma velhice compartilhada — namoridos não foram escolhidos para serem parceiros de artrite, reumatismo e pressão alta, era só o que faltava.

Pois então. A idéia é boa e prática. Só que o índice de príncipes e princesas virando sapo é alta, não se evita o tédio conjugal (comum a qualquer tipo de acasalamento sob o mesmo teto) e pula-se uma etapa quentíssima, a melhor que há.

Trata-se do namoro, alguns já ouviram falar. É quando cada um mora na sua casa e tem rotinas distintas e poucos horários para se encontrar, e esse pouco ganha a importância de uma celebração.

Namoro é quando não se tem certeza absoluta de nada, a cada dia um segredo é revelado, brotam informações novas de onde menos se espera. De manhã, um silêncio inquietante. À tarde, um mal-entendido. À noite, um torpedo reconciliador e uma declaração de amor.

Namoro é teste, é amostra, é ensaio, e por isso a dedicação é intensa, a sedução é ininterrupta, os minutos são contados, os meses são comemorados, a vontade de surpreender não cessa — e é a única relação que dá o devido espaço para a saudade, que é fermento e afrodisíaco. Depois de passar os dias se vendo só de vez em quando, viajar para um fim de semana juntos vira o céu na Terra: nunca uma sexta-feira nasce tão aguardada, nunca uma segunda-feira é enfrentada com tanta leveza.

Namoro é como o disco “Sgt. Peppers”, dos Beatles: parece antigo e, no entanto, não há nada mais novo e revolucionário. O poeta Carlos Drummond de Andrade também é de outro tempo e é para sempre. É ele quem encerra esta crônica, dando-nos uma ordem para a vida: “Cumpra sua obrigação de namorar, sob pena de viver apenas na aparência. De ser o seu cadáver itinerante"
.Martha Medeiros

sábado, 28 de maio de 2011

Internação para menores viciados em crack será obrigatória no Rio

Alexandre Vieira/Agência O Dia
A partir da próxima segunda-feira (30), todas as crianças e adolescentes recolhidos nas ruas da cidade do Rio de Janeiro e que sejam comprovadamente dependentes químicos, principalmente de crack, serão obrigados a se tratar. A medida será publicada no Diário Oficial.
Até então, a Secretaria Municipal de Assistência Social entedia que obrigar os menores a se tratar constituiria crime de cárcere privado. Após entendimento com o Ministério Público e a Vara da Infância e Juventude, a interpretação do ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) mudou, conforme explica o secretário Rodrigo Bethlem:
- O estatuto define alguns direitos para as crianças e adolescentes. O maior deles é o direito à vida e à integridade física. Na medida em que essas crianças estão nas ruas consumindo drogas e isso pode levá-las a morte, com uma ausência nítida da família, o poder público tem não só o direito, mas o deve de intervir. Essa internação compulsória vai servir para auxiliar esse jovem a se tratar, com todo o acompanhamento médico necessário.
Agentes da prefeitura abordam usuários de crack no Jacarezinho

O secretário afirmou que a prefeitura possui 60 vagas exclusivas para tratar menores dependentes químicos, mas que esse número vai subir para 130 até o fim de junho.
- Pode não ser um número absolutamente suficiente, mas a gente só vai saber disso à medida em que fizermos as internações. Os menores a gente tem legalmente como agir dessa forma. O que a gente não pode fazer é ter um número de vagas razoável e não tratar esses jovens. Há também nos abrigos uma equipe multidisciplinar capaz de fazer uma análise preliminar a ajudar quem estiver disposto a se tratar.
Bethlem reforçou ainda a mudança na interpretação da legislação.
- Tivemos que fazer isso diante da situação que vivemos. Não é difícil chegarmos a uma cracolândia e encontrarmos cinco, dez, 20 crianças. Eu não quero nada diferente para essas crianças do que eu quero para os meus filhos. Você não pode imaginar que uma criança de 12 anos tenha capacidade para decidir quando e se ela quer se tratar. Isso a família deveria fazer. A família não faz e nós temos que fazer.
Os critérios para decidir quem precisa de internação serão clínicos, segundo o secretário. Serão feitos exames e avaliações médicas e psicológicas que vão verificar quem deve ou não ser submetido à internação.
Caso a família de um desses jovens queira impedir a internação dele, a secretaria, com apoio do Conselho Tutelar e da Vara da Infância, vai avaliar se a família tem condições de cuidar do menor ou não. Caso não tenha, ele será internado.

Fonte:  Uniad

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Achava que nada seria pior, diz especialista

Especialistas monitoram o uso de mais um subproduto do crack a partir de relatos à rede de tratamento. "Falam do óxi como uma nova substância com efeito mais forte e cheiro distinto, que provoca mais diarreias", relata Ronaldo Laranjeira, presidente do Instituto Nacional de Políticas de Álcool e Drogas.
Mais impuro, o óxi tem potencial para agravar problemas pulmonares, em função da inalação de gasolina e outros solventes. "Até dois meses atrás, achava que nada podia ser pior que o crack", diz Laranjeira. "Os danos cerebrais e neurológicos podem ser ainda maiores."

Titular da departamento de psiquiatria da Unifesp, ele afirma que não deu tempo ainda de analisar impactos. "Entre experimentar e substituir o crack pelo óxi leva tempo", diz. "Muita gente vai morrer e ficar doente para que se consiga constatar os estragos do óxi à saúde.

Fonte: Folha de São Paulo - DE SÃO PAULO

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Oxi é o crack pirateado

Droga não arrebatou usuários, é vendida como um falso crack, e mata muito mais rápido do que o produto original.

Feito a base de cocaína, combustível e cal virgem, o Oxi – uma versão ainda mais corrosiva do crack – começa a circular no sudeste do País após seguidas apreensões da droga. Mercadoria recém chegada à cracolândia, maior pólo de usuários de droga do Brasil, no centro da capital paulista, o oxi é considerado por especialistas em dependência química como a versão pirata do crack.

Até agora, 1% da clientela atendida pelo Centro de Referência de Álcool, Tabaco e outras drogas (Cratod), revelou ter consumido a droga sem consciência de que não usava a pedra tradicional, feita da mistura de pasta base de coca ou cocaína refinada com água e bicabornato de sódio.

Leia mais: O preço da vida: R$ 10

“Os usuários que atendemos acham que fumaram o oxi pelo gosto de gasolina que sentiram na boca após consumirem o que pensavam ser crack. Eles afirmam que foram enganados”, pontua Marta Ana Joezierski, diretora do Órgão.

A especialista explica que a droga não tem apelo ao consumidor do crack. Além de mais nocivo do que o produto ‘original’ o oxi queima a garganta e deixa como resquício o gosto de combustível muito forte na boca. Os efeitos alucinógenos são exatamente os mesmos provocados pelo crack. “Não é uma substância para consumo humano, é para máquinas", assevera Marta.

Veja também: Crack é problema para 70% dos municípios brasileiros

O oxi contém múltiplos resíduos, é mais agressivo ao sistema respiratório, além de ser um veneno para o fígado e rins. Carlos Salgado, presidente da Associação Brasileira de Estudo sobre Álcool e Drogas (Abead) e psiquiatra da Unidade de Dependência Química do Hospital Mãe de Deus, em Porto Alegre, endossa o baixo interesse dos dependentes químicos na suposta nova droga.

“Não há diferenças no efeito, na reação que o usuário busca na droga, por isso é difícil reconhecer quem está usando. É apenas um produto mais barato, grosseiro e ainda mais agressivo. A gasolina inalada pode inutilizar rins e fígado rapidamente.”

Veja como agir em caso de emergência

Fim da linha

Apreensivo com a versão mais tosca do crack, Ronaldo Laranjeira, psiquiatra da Univesidade Federal de São Paulo (Unifesp) e especialista no assunto, acredita que o efeito do oxi será ainda mais devastador nos usuários antigos, chamados de forma pejorativa de “craqueiros”.

“Nenhum usuário recente buscará pelo oxi. Ele é conhecido pelas pessoas que já estão bastante debilitadas pela droga original. Na falta do crack após uma longa noite de consumo, o oxi é a alternativa mais barata, e nem sempre uma escolha.”

Para Laranjeiras, a droga fresca no mercado, mesmo que não arrebate consumidores oficiais, retroalimentará a espiral de um problema crônico de saúde pública: o ineficaz programa do governo de combate às drogas.

“Precisamos de um tratamento estruturado, regionalizado. Eu defendo a idéia de não tolerar o uso público do crack. A repressão eliminaria a cracolândia, mas é preciso oferece um serviço eficaz de assistência social ao usuário, com internação, tratamento. Todos os países que permitiram o uso público se deram muito mal.”

Dados iniciais

Estima-se que a circulação do oxi no Brasil tenha começado em 2004, pelo norte do País. Índices isolados mostram que sua ação é ainda mais letal. Enquanto o usuário de crack vive de quatro a 15 anos, o oxi já matou 30 pessoas no Acre em apenas um ano de consumo.

“Talvez a gente tenha menos trabalho no atendimento, por que esses usuários morrerão antes de pedir ajuda”, prevê a diretora do Cratod.

Crack x Oxi

As duas drogas causam euforia, aumento da pressão arterial, elevam as chances de infarto e comprometem, a longo prazo, o sistema respiratório. O Oxi, por conter gasolina na composição, ainda é extreamente prejudicial ao fígado e rins, podendo provocar a falência de tais orgãos.

A coloração do crack é branca, enquanto o oxi pode ser encontrado nas versões amarela e roxa, conforme a concentração de gasolina e cal virgem, respectivamente. 

Fonte: IG

domingo, 8 de maio de 2011

Absinto: "Fada verde" de novo à venda em França

Cem anos depois de o consumo e a produção terem sido proibidos devido ao elevado teor de álcool e a supostos efeitos alucinógenos, o Absinto, também conhecido por "fada verde", bebida favorita de artistas, volta a ser vendido em França.
Daniel Ribeiro, correspondente em Paris (www.expresso.pt)
O absinto foi a bebida popular, na moda, na «Belle Époque»
Por uma questão de dinheiro. Os argumentos que conduziram à proibição da produção e consumo de Absinto em França, em 1915, caíram por terra quando a Suíça pretendeu, recentemente, criar uma região de denominação protegida no cantão de Neuchâtel

Os gigantes franceses da produção e distribuição de álcool, designadamente os dos populares "pastis" das marcas "Ricard" e "51", à base de anis, mobilizaram os lóbis e o Governo de Paris cedeu.

O absinto ("fada verde"), bebida predilecta de escritores e pintores como Baudelaire, Van Gogh, Óscar Wilde, Verlaine, Toulouse-Lautrec, Degas, Manet ou Rimbaud vai regressar brevemente aos bistrots (tabernas) franceses.

"Bebida poética"

Com teores de álcool que podem atingir 85/90°, o Absinto é considerado pelos artistas como uma "bebida poética", com efeitos semelhantes ao de um belo pôr-do-sol (comparação atribuída a Óscar Wilde, que também terá sido o primeiro a chamá-la "fada verde").

No início do século passado, era a mais popular bebida alcoólica de França. Mais barata do que o vinho e a cerveja, era consumida abundantemente por todo o lado.

Depois da proibição, foi substituída pelo "pastis" (40°) que toda a gente bebe igualmente em quantidades incríveis, em França, como aperitivo, sobretudo ao fim da manhã e do dia.

Moda na "Belle Époque"

O Absinto começa por fascinar pelo cerimonial tradicional que acompanha o seu consumo.

É bebido - continuou a sê-lo clandestinamente durante a proibição - depois de ser misturado com água gelada. Mas a água deve misturar-se ao líquido verde caindo gota a gota no copo, depois de diluir um cubo de açúcar através uma colher furada. A mistura provoca então reflexos sucessivos de diversos coloridos azulados no líquido verde antes de o conjunto se transformar num branco leitoso.

Nos séculos XIX e XX, alguns consumidores acrescentavam também láudano à mistura, uma substância opiácea que lhe aumentava os eflúvios inebriantes.

Foi a bebida popular, na moda, na "Belle Époque", em França, sobretudo em Paris. Artistas, como Picasso, testemunharam-no em pinturas.

Droga maldita de massas

No entanto, muita gente bebia - e bebe - Absinto puro em muito pequenas quantidades, servido geralmente em minúsculos cálices de pé alto.

Extasiante, o Absinto transformou-se numa bebida mítica. Mas, considerada uma perigosa droga de massas, foi qualificada como uma bebida amaldiçoada e transformou-se mesmo numa lenda das substâncias alucinógenas ao alcance de toda a gente.

Terá sido esta "fada verde" que levou Van Gogh a cortar uma orelha e a agredir Gauguin ou que conduziu Verlaine a disparar contra Rimbaud. Foi associada ao alcoolismo, à loucura e à criminalidade e foi, alegadamente por esses motivos, proibida.

Medicamento

O consumo de Absinto era até agora permitido em alguns países, como em Portugal, mas com graduação alcoólica e quantidade de tujona, principal componente da bebida, limitadas.

Destilado a partir de uma erva (Artemisia absinthium), o Absinto foi utilizado inicialmente, no fim do século XVIII, como medicamento inventado por Pierre Ordinaire, um médico francês que vivia na Suíça.
Fonte: UNIAD

O oxi e o crack

Enquanto insistirmos em concentrar os esforços na "guerra contra as drogas", sem nos preocuparmos em reduzir o número de usuários que formam o mercado consumidor, iremos ao sabor da droga da moda, cada vez mais barata, compulsiva e destruidora.Caro leitor, é preciso ter curso de pós-graduação em drogas ilícitas para prever o que acontecerá?
Agora, no auge da epidemia de crack, surge o oxi, preparação mais bruta ainda, resultado do tratamento da pasta de cocaína com querosene, cal e líquidos oxidantes, mais baratos do que o bicarbonato e o amoníaco usados na química do crack. Na cracolândia a pedra é vendida a R$ 2; a de crack custa R$ 10.
Nessa época, tive a esperança de que desaparecesse também das ruas, em analogia ao que acontecera com a cocaína injetável. Logo percebi a ingenuidade: é a droga que mais lucro dá ao traficante.
Quando uma das facções de prisioneiros assumiu a supremacia nas cadeias de São Paulo, seus líderes concluíram que o crack colocava o usuário num estado de insolvência financeira que prejudicava os interesses da organização. Como consequência, aconteceu o que eu jamais poderia imaginar, o crack foi banido das cadeias paulistas.
A ausência completa de campanhas de esclarecimento nas escolas e nos meios de comunicação de massa, de estratégias de prevenção ao uso e de programas de saúde destinados a recuperar os usuários, permitiram que o crack se espalhasse feito praga e chegasse às cidades pequenas do país inteiro.Não havia motivo para comemoração, no entanto. A cocaína injetável foi imediatamente substituída pelo crack, preparação mais impura, mais barata e de uso compulsivo, que eliminava a necessidade da aplicação intravenosa.
As mortes por Aids, a aparência física dos que chegavam ao estágio final de evolução e as campanhas educativas contra o uso de droga na veia acabaram com as injeções de cocaína no presídio, tendência que se espalharia pelas ruas da cidade.Os resultados mostraram que 17,3% dos presos eram HIV-positivos, quase todos infectados por seringas e agulhas. Estudo realizado mais tarde com as mesmas amostras revelou que 60% delas eram positivas para o vírus da hepatite C.
Nesse ano, colhemos 1.492 amostras de sangue entre os que estavam inscritos no programa de visitas íntimas, com o objetivo de mostrar às autoridades do sistema prisional que era um absurdo a sociedade abrir as portas da cadeia para mais de mil parceiras sexuais daqueles homens, sem lhes oferecer qualquer tipo de informação nem lhes garantir acesso ao preservativo.Quando cheguei ao Carandiru, em 1989, cansei de atender presos com as veias dos braços em petição de miséria, resultado das sucessivas picadas para injetar a droga nas condições mais precárias de assepsia que alguém possa imaginar.O acúmulo desses casos deixou claro que havia uma epidemia de cocaína injetável que se disseminava em silêncio na periferia das cidades grandes.Os primeiros casos da doença no Brasil foram diagnosticados a partir de 1982, exclusivamente entre homens homossexuais. Em seguida, começaram a surgir homens e mulheres heterossexuais dos bairros mais pobres, que haviam contraído o vírus ao compartilhar seringas e agulhas para injetar cocaína.
A epidemia de Aids se encarregou de escancarar uma realidade menos fantasiosa.Tradicionalmente mais cara do que a maconha, a cocaína foi considerada exclusiva dos mais abastados até o fim dos anos 1970. Na imaginação popular, o pó era consumido em reuniões, nos passeios de iate e nas festas em que os milionários faziam troca de casais.
Na esteira do movimento hippie e da contracultura, a maconha se tornaria a droga preferida pela juventude, a partir da década de 1960. Os primeiros a aderir foram os universitários e os intelectuais, depois vieram os mais jovens e os iletrados, num processo insidioso e persistente que disseminou o uso em todas as camadas sociais.Nos anos 1950, a classe média chamava a maconha de "droga de engraxate", com desprezo. Fumavam maconha apenas os marginais e a malandragem de rua; a burguesia endinheirada, jamais.DROGA ILÍCITA é como a moda: passa uma, vem outra.

Fonte:
Folha de São Paulo - DRAUZIO VARELLA

quinta-feira, 5 de maio de 2011

O abandono do enfermo mental

Preconceito, falta de hospitais decentes e equipados e omissão do Estado - o doente continua a ser tratado em depósitos de gente.

O Brasil sempre cuidou mal de seus enfermos mentais. A novidade, aterradora, é que agora consegue cuidar pior ainda – e a mais recente perda de qualidade se deu a partir do efeito colateral daquilo que um dia se imaginou ser o grande remédio: os movimentos antimanicomiais. Capitaneados por alguns médicos, poucos intelectuais e muitos políticos, que elegeram como ideólogo o cientista italiano Franco Basaglia, tais movimentos ganharam a queda de braço com a psiquiatria tradicional, exigiram o fechamento de uma infinidade de hospitais e promoveram a desinternação em massa de pacientes.
A maioria desses hospitais e clínicas, operando como verdadeiras masmorras, tinha mesmo de ser implodida porque estava em questão a humanização dos tratamentos, ponto com o qual, naturalmente, todos concordavam e concordam. Ocorre, no entanto, que o Estado pouco fez para que em seu lugar surgissem unidades modernas e adequadas de atendimento. O resultado de tal negligência hoje é triste: os escassos leitos psiquiátricos, com mais de 70% deles ocupados por alcoolistas, não atendem à demanda e as instituições novamente se tornaram “depósitos de enfermos”, como diz a diretora do Conselho Federal de Serviço Social, Maria Bernadette de Moraes Medeiros. Mais triste ainda: estima-se que 60% dos pacientes não se adaptaram ao convívio com seus familiares (e vice-versa) e muitos deles tornaram-se paulatinamente os chamados moradores de rua, numa sucessão de gerações que vivem nessa penúria. “A esquizofrenia está presente em 10% dos sem-teto e 90% deles são alcoolistas”, diz Wagner Gattaz, professor titular e presidente do conselho diretor do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (IPq). “Infelizmente, a política tem mais força que as evidências científicas e a saúde mental ou fica abandonada ou é equivocadamente enfocada pelos governantes.”

Desembarcadas no Brasil há um quarto de século, as teses dos movimentos antimanicomiais até hoje orientam as políticas oficiais de saúde mental e delas nasceram, por exemplo, os Centros de Apoio Psicossocial (Caps), espécie de solução a conta-gotas num oceano de problemas: funcionam somente como ambulatórios, embora recebam 63,4% das verbas destinadas à saúde mental, e de suas 1,4 mil unidades apenas 50 internam pacientes. “No momento agudo de uma crise esquizofrênica em que o doente se sente perseguido, por exemplo, é preciso internação para protegê-lo de si mesmo e para proteger a sociedade”, diz Antonio Serafim, professor de psicologia e coordenador do Programa de Psiquiatria Forense e Psicologia Jurídica do IPq do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. “Quando um enfermo mental comete um crime, é por pura negligência do Estado.” Ele alerta para o fato de que atualmente já é possível, até mesmo numa criança, detectar se ela dá sinais de que poderá desenvolver alguma enfermidade mental. Para isso, no entanto, o Estado tem de estar presente nas escolas com psicólogos e educadores especializados. Serafim cita dois exemplos, o de Wellington de Oliveira (responsável pelo recente massacre numa escola no Rio de Janeiro) e o de Mateus Meira (que em 1999 metralhou pessoas num cinema em São Paulo). “Não é andando na rua que vamos dizer esse cidadão pode ser um Wellington e esse pode ser um Meira, não é olhando adultos. É acompanhando de forma especializada crianças nas escolas, e isso exige participação do Estado”, diz Serafim. Outro exemplo a reafirmar o seu raciocínio é a estatística sobre Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade: a cada dez crianças com essa doença, seis correm alto risco de se envolverem em delinquência juvenil.

Pode-se então, dessa forma, intervir preventivamente na saúde mental, em vez de apenas se pensar nela quando ocorrem atos de violência – seja do indivíduo contra a sociedade, seja contra si mesmo. Entra-se aqui, assim, num dos mais importantes campos relacionados a esse tipo de enfermidade – o do estigma. Muitas vezes a família guarda preconceito contra seu ente doente e não o leva a tratamento, muitas vezes a sociedade o isola. O Estado não age para derrubar esses tabus e quando acontecem atos de violência o estigma aumenta porque corre-se a vincular o doente e a sua doença ao crime. “Antes era o estigma de enfermo mental, depois vem o estigma de enfermo mental criminoso”, diz Serafim. “Hoje no Brasil o diagnóstico de doença mental não é diagnóstico, é condenação”, diz Jorge Alberto Costa e Silva, ex- diretor internacional da OMS e ex-presidente da Associação Mundial de Psiquiatria. “O doente mental é estigmatizado, ninguém quer ter um por perto. O País precisa mudar radicalmente essa maneira de pensar e de agir.”

O Brasil e outros países

Especialistas consultados por ISTOÉ são unânimes: Alemanha, Canadá e Inglaterra são modelos no campo da saúde mental por possuírem justamente o que falta ao Brasil: planejamento de assistência. Na Alemanha os hospitais têm como prolongamento comunidades terapêuticas e oficinas abrigadas.

No Canadá os cuidados são totalmente integrados em três níveis: primário (posto de saúde), secundário (hospital de médio porte) e terciário (hospital de referência). A Inglaterra desenvolveu um programa de internação máxima e desinternação gradual para o enfermo que tenha cometido um crime: ao sair do hospital, vai obrigatoriamente para as unidades comunitárias e seus familiares diretos têm de acompanhá-lo. No Brasil o doente mental criminoso, se for considerado irresponsável pelo seu ato, é encaminhado a manicômios. Em nenhum deles há tratamento adequado, quer psicológico ou medicamentoso, e os recursos recebidos do Estado são mínimos. “É mais fácil excluir da sociedade: tranca lá e pronto. Embora hospitalizados, os pacientes não recebem tratamento, a não ser a contenção”, diz Maria Bernadette de Moraes Medeiros, diretora do Conselho Federal de Serviço Social. Os manicômios são, em sua maioria, um local para esperar a morte.
Preconceito, falta de hospitais decentes e equipados e omissão do Estado - o doente continua a ser tratado em depósitos de gente.
Fonte: ISTOÉ - SP

terça-feira, 3 de maio de 2011

OXI

O Denarc (departamento de narcóticos), da Polícia Civil de SP, apreendeu neste ano cerca de 60 kg do oxi, um novo tipo de droga feita com a pasta base de cocaína em forma de pedra oxidada, mais barata e mais letal do que o crack, com traficantes que atuam na região da cracolândia, centro da capital.Segundo o delegado Reinaldo Correa, a droga é facilmente confundida com o crack e, justamente por isso, hoje, os policiais do Denarc têm recebido treinamento para distinguir uma da outra.
"O oxi, quando queimado, deixa um resíduo de óleo. O crack não. Muitas vezes se apreende oxi e por ser uma droga ainda desconhecida, se pensa que é crack", afirma Correa.
A matéria-prima do oxi são folhas secas do arbusto Erythroxylum coca, cultivado na Bolívia, Peru e Colômbia. No preparo, os traficantes utilizam ácidos, querosene e oxidantes (daí o nome), que "empedram" a pasta base. Além da capital, a polícia paulista também já apreendeu oxi em Santos, no litoral do Estado. Em São Paulo, a pedra de oxi chega a ser vendida por R$ 2.
O oxi já está se espalhando na Amazônia. No Acre, que faz fronteira com os países produtores, Peru e Bolívia, a droga é conhecida desde a década de 1980. Nos últimos anos, porém, os usuários passaram a fumar o oxi em cachimbos como os usados com crack -antes, a droga era diluída e misturada à maconha. Em 2005, pesquisa do Ministério da Saúde e da Aredacre (Associação Acreana de Redução de Dano) deu o alerta sobre a disseminação do oxi no Estado.
CIRCULAÇÃO LIVRE
Por dois dias, a Folha esteve em Rio Branco e encontrou traficantes oferecendo a pedra de oxi por R$ 5. O movimento de pessoas fumando a droga nas ruas é restrito. Há, no entanto, jovens de classe média entre elas.
Nos últimos dois anos, a Polícia Federal do Acre apreendeu 1,4 tonelada da droga. De acordo com o delegado Maurício Moscardi, a droga entra por cidades de fronteira como Brasiléia (com a Bolívia) e Cruzeiro do Sul (com o Peru).
ÍNDIOS
A Polícia Civil do Amazonas diz que o oxi chegou à região há menos de dois anos. Indígenas estão sendo usados por traficantes como "mulas" para transportar pequenas quantidades da droga que serão vendidas.
No mês passado, uma índia foi presa com 600 gramas de oxi em Humaitá (AM).
Profissionais de saúde atuam nas ruas de Manaus e Belém atrás de usuários de oxi. "Saímos à procura deles para evitar que se chegue a "oxilândias'", diz a psicóloga Ane Louise Michetti, que participa de ação do Ministério da Saúde com usuários.
Fonte: Folha de SP

Indústria 'turbinou' cigarros com drogas emagrecedoras, diz estudo

Pesquisa suíça mostra que a prática durou 50 anos, segundo documentos das fabricantes
Substâncias como anfetaminas já fizeram parte da composição dos produtos; empresas refutam acusação
MAGREZA QUÍMICA: Pesquisa mostra como a indústria adicionou elementos químicos para que o cigarro reduzisse o apetite
Folha de São Paulo - MARIO CESAR CARVALHO
DE SÃO PAULO
Seis das maiores fabricantes de cigarro do mundo usaram ou fizeram planos de usar aditivos químicos em seus produtos para reduzir o apetite, de acordo com uma pesquisa feita por médicos da Universidade de Lausanne, na Suíça.
Os documentos citam o uso de anfetamina, efedrina, gás do riso e ácido tartárico, entre outras substâncias.
Anfetamina e efedrina são conhecidos redutores de apetite. Gás do riso suprime a fome ao alterar o sabor dos alimentos, segundo os autores. Ácido tartárico reduz a fome ao ressecar a boca. A pesquisa foi publicada na última edição do "The European Journal of Public Health", editado pela Universidade de Oxford.
A prática durou pelo menos 50 anos, de 1949 a 1999, ainda de acordo com o grupo de pesquisadores. O levantamento foi feito em documentos da própria indústria do cigarro. Os papéis se tornaram públicos por conta de uma ação dos EUA na qual as empresas foram condenadas por terem omitido os males provocados pelo fumo por 40 anos.
A ação resultou na maior indenização da história (cerca de US$ 220 bilhões ou R$ 346 bilhões) e na abertura de todos os documentos da indústria, por ordem judicial.

MULHERES
A vantagem do supressor de apetite para a indústria é que ele amplia uma característica do cigarro: a capacidade de reduzir a fome.
A estratégia deu certo: até hoje, muitas mulheres dizem que não vão parar de fumar porque engordariam. Não dá para saber se a prática continua, segundo Semira Gonseth, uma das autoras do trabalho.
"Precisamos de mais estudos químicos sobre os ingredientes do cigarro ou de uma lei que obrigue a indústria a revelar o que ela usa", disse Gonseth à Folha.
"Essa descoberta dos moderadores de apetite mostra que a indústria nunca teve ética para nada. Ninguém sabe que efeitos colaterais esses supressores podem ter", diz a médica Vera Luísa da Costa e Silva, que dirigiu a seção mundial de controle de tabagismo da OMS (Organização Mundial da Saúde) e é uma das maiores autoridades em tabaco no mundo.

FUMAÇA E PESO
O cigarro ajuda naturalmente a controlar o peso porque a nicotina diminui a ação da insulina, reduzindo a entrada de glicose nas células.
O efeito disso é a diminuição na sensação de fome, afirma Costa e Silva. O adição do supressor de apetite potencializa essas características.
O plano de incluir aditivos que diminuem a fome, segundo os documentos, visava conquistar novos consumidores: as mulheres.
Um documento da Philip Morris de 1965 explicita e ssa tática: "Se fôssemos capazes de desenvolver um cigarro muito mais "seguro' do que os existentes [...] e que agisse como um supressor de apetite, descobriríamos um novo mercado de fumantes".
Projeto de desenvolvimento de um Marlboro mais fino, voltado para mulheres, cita como característica desejável a "supressão de apetite".
É da Philip Morris, líder mundial no mercado de cigarros e fabricante do Marlboro, a maior parte dos documentos com referência a moderadores de apetite encontrados pelos pesquisadores.

PIPOCA
Questionada pela Folha, a empresa diz que não usa esse tipo de aditivo, mas se recusou a comentar o passado.
Um projeto do Pall Mall, cigarro popular nos anos 70, cita como aditivos a cafeína e a efedrina. Uma molécula patenteada para reduzir o apetite, a 2-acetilpiridina, que dá um sabor de pipoca ao cigarro, foi usada pela BAT (British American Tobacco, dona da Souza Cruz), Philip Morris e outras duas fabricantes.
A empresa inglesa, que controla a Souza Cruz, também usou ácido tartárico em cigarros, de acordo com os pesquisadores. Esse ácido resseca a boca e foi proibido de ser adicionado ao tabaco pela Justiça dos Estados Unidos em 1977.
Fonte:Uniad