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Sou psicóloga,me dedico inteiramente a este meu trabalho. Pós graduanda em Saúde Mental com enfoque em álcool e outras drogas. Abordagem Terapia Cognitiva Comportamental. Atendo em Aldeia,Ilha do Leite, Boa Viagem e Gravatá. (81)9963-3553

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Quando consumir vira doença

Casos de pacientes compulsivos por compras preocupam especialistas e começam a ser desvendados pela medicina
Ela entrou em uma perfumaria em busca de um batom e saiu com 18 deles. Gastou R$ 40 mil num mês com objetos de uso pessoal de que não precisava. E acabou num consultório médico, em busca de ajuda para entender, e tratar, sua fissura pelo ato de comprar. A fisioterapeuta paulista Tatiana Lopes, 28 anos, sofre de um mal chamado oneomania – ou, simplesmente, compulsão por compras. Instituições como o Hospital das Clínicas de São Paulo, da Universidade de São Paulo, e a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) oferecem tratamento especializado para essa doença que, muitas vezes, é confundida com fraqueza, ostentação ou impulso de “patricinhas” e “mauricinhos”. Agora, a Santa Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro acaba de inaugurar um ambulatório para atender as vítimas da enfermidade.

A carioca Flávia Lima, 25 anos, está se esforçando para não se tornar compradora compulsiva. O sinal de alerta veio quando as dívidas cresceram assim que saiu da casa dos pais. “Agora, estou aprendendo a me controlar para fazer uma poupança”, conta. Mas ela ainda luta contra o impulso de comprar. “Entro no cheque especial e parcelo as contas no cartão de crédito por conta de gastos com futilidades”, reconhece.

SEM CHEQUES NA BOLSA
A comerciante Larissa Raposo, 26 anos, sentiu os primeiros sintomas da doença quando passava por uma depressão pós-parto, aos 19 anos. Ela já era casada e tinha dois filhos. “Não sentia mais prazer em nada, a não ser em comprar”, conta. Aos poucos, as dívidas se avolumaram e Larissa teve seu nome incluído nos cadastros de inadimplentes. Hoje, a compulsão está controlada. Mas ela não usa cheques nem cartão de crédito

É mais uma demonstração de que os especialistas estão preocupados com a evolução do problema. E, além da ampliação dos serviços especializados, a medicina também tem se dedicado a desvendar os aspectos da enfermidade. Até hoje, as causas do transtorno não são totalmente conhecidas, mas há alguns avanços neste sentido. “Sabemos que existe uma propensão genética e que pessoas impulsivas têm maior probabilidade de desenvolvê-lo. Mas o ambiente se encarrega do restante”, explica o psiquiatra Hermano Tavares, do Instituto de Psiquiatria da USP. De fato, estímulos para compras não faltam, com tantas ofertas de compras a crédito e o apelo publicitário. É por isso que este tipo de compulsão integra a lista das chamadas doenças da modernidade. “É um mal de uma era que insufla o prazer imediato em tudo”, afirma a psiquiatra Analice Gigliotti, presidente da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas (Abead) e chefe do setor de dependência química e outros transtornos do impulso, da Santa Casa, no Rio.

Outras informações também estão ajudando a conhecer melhor a enfermidade. Sabe-se,por exemplo, que ela é mais comum entre as mulheres, Uma das hipóteses que explicariam essa constatação é o fato de que, historicamente, o papel das compras sempre foi atribuído a elas. Portanto, as mulheres estariam mais “expostas” ao objeto da compulsão. “Também é reconhecido que a oneomania, em geral, aparece quando o indivíduo atinge certa independência financeira”, diz a psicóloga Ângela Duque, do Serviço de Psiquiatria da Santa Casa carioca.

Uma das grandes dificuldades no entendimento da patologia, porém, é reconhecer quando ela se torna uma doença. Hoje, a psiquiatria define alguns parâmetros que ajudam nesta tarefa. O primeiro é verificar se o hábito – no caso, comprar demais – está trazendo prejuízo à vida pessoal, profissional e social. Alguém que está devendo muito e mesmo assim não consegue parar de comprar já está doente. Outro indicativo é o próprio sentimento experimentado pelo indivíduo. “Se após as compras a euforia dá lugar à vergonha, à culpa ou ao arrependimento, pode ser um sinal da compulsão”, explica Analice.

Outro obstáculo já detectado pelos especialistas é a relutância dos portadores em procurar auxílio médico. Na opinião da psicóloga Juliana Bizeto, coordenadora do ambulatório de transtornos não-químicos da Unifesp, isso ocorre muito em razão de a compulsão por compras ser um transtorno mais aceito socialmente, diferentemente do alcoolismo ou da dependência de drogas. Ou seja, nem o doente nem sua família entendem que é uma enfermidade e que, como tal, deve ser tratada.

Esta falta de percepção é um equívoco lamentável. “As pessoas precisam saber que a doença existe para evitar o sofrimento desnecessário. Com o tratamento, alcançamos bons resultados”, garante o psiquiatra Hermano Tavares. Hoje, as opções de tratamentos baseiam-se em psicoterapia, medicação (antidepressivos e ansiolíticos) e no treinamento do paciente para que ele aprenda a usar melhor o dinheiro. “Ninguém pode passar o resto da vida sem comprar. Por isso, o aprendizado de como lidar com o problema é tão importante”, explica a psicóloga Ângela.

Fonte: Abead

Maconha e memória

Seria ótimo que todos tomassem conhecimento da pesquisa realizada pela Universidade Federal de São Paulo mostrando que a maconha afeta em 30% a memória --o que é uma brutalidade-- dos jovens abaixo dos 15 anos, quando o cérebro ainda está em formação. É um alerta para os pais, educadores e especialmente para os jovens.
Sou daqueles que defendem há muito tempo a ideia de que a repressão policial ao consumo de maconha é mais prejudicial do que seu uso. Segundo os cientistas, essa droga causa menos danos do que álcool e cigarro, como sabemos.
Isso nos torna ainda mais responsáveis de divulgar, sem moralismos macabros, os perigos para a saúde do abuso da maconha, que afeta a concentração, prejudica os estudos e o trabalho. Ter a memória afetada precocemente significa danos no trabalho, cortando uma série de possibilidades.
As marchas a favor da descriminação da maconha deveriam colocar, na sua plataforma, aviso aos riscos da saúde.
Esse discurso não pode ficar restrito aos moralistas e não moralistas. Jovens diminuíram o consumo do cigarro porque objetivamente viram que ali se tirava um pedaço da vida.
Daí que não consigo engolir o uso de celebridades para estimular qualquer produto com propriedade psicoativa como o álcool.
Fonte:
Folha de São Paulo - Gilberto Dimenstein

Sonho de qualquer traficante é a maconha liberada, diz procurador

Para Marcio Sergio Christino, tráfico poderá lavar o dinheiro do comércio de outras drogas

Segundo ele, modelos de controle da venda utilizados em países europeus não podem ser aplicados no Brasil

Folha de São Paulo - ROGÉRIO PAGNAN
DE SÃO PAULO

O procurador de Justiça de São Paulo Marcio Sergio Christino, um dos principais especialistas do país em crime organizado, diz que a eventual liberação da maconha no país fortalecerá ainda mais as facções criminosas.
Segundo ele, os traficantes poderão usar empresas legais para lavar o dinheiro da venda de outras drogas e ter livre acesso aos usuários.
O assunto voltou a repercutir após o STF (Supremo Tribunal Federal) decidir que não há impedimento legal às manifestações a favor da descriminalização da maconha.


Folha - O que a liberação da maconha poderá provocar?
Marcio Sergio Christino - Se você está dizendo que todos podem consumir, está dizendo que todos podem comprar. Está, então, admitindo que alguém vai ser o fornecedor. Qual é a consequência? Você cria um mercado cativo, fixo, sem ter o fornecedor. Isso vai intensificar a venda.
Significa dizer que o tráfico, da forma como existe hoje, vai se fortalecer e se expandir. Porque o traficante que vende a maconha é o mesmo que vende a cocaína, o crack, as outras drogas.
Então, na prática, liberar o consumo fortalecerá o tráfico. E todo ele, não apenas o das chamadas drogas leves. Isso é o sonho de consumo de qualquer traficante.
E se houver um controle rigoroso da venda?
Vamos utilizar o modelo holandês? Português? Nenhum deles é compatível com o nosso. São países pequenos e muito distantes dos mercados produtores. Nossa realidade é diferente. Tem muita plantação na região Nordeste, e não conseguimos fazer um controle como eles.
Você só poderia falar em acabar com o tráfico se tivesse uma rede de fornecimento de maconha que permitisse a entrega gratuitamente.
Como se destrói o tráfico? São os princípios econômicos. Você vende um produto melhor com um preço mais baixo. O Estado vai assumir esse papel de vender entorpecente por preço mais baixo em larga escala a toda a população? É viável isso? Não num país como o nosso.

Lojas legais poderiam ser utilizadas pelos traficantes?
Eles utilizarão a própria loja que vende maconha para lavar o dinheiro das outras drogas. O traficante vende de tudo, é um princípio de economia. Não é um raciocínio criminoso. É um raciocínio de empresário.
Isso é o sonho de qualquer traficante. Vou vender pra caramba, todo mundo vai consumir, consumir não é crime, ninguém vai reprimir e vou vender à vontade.

O que pode ocorrer com os outros tipos de crimes, como os roubos e os furtos?
Tendem a aumentar. Por quê? Vai expor a sociedade e sem nenhuma salvaguarda. Se você tem cinco pessoas usando [maconha] hoje, terá dez. Só que você não tem a conclusão automática de que as novas cinco pessoas serão consumidoras conscientes.

E a legislação atual?
A nova legislação é esquizofrênica. Devido a alguns critérios de redução de pena, temos a menor pena de tráfico de drogas do mundo. É a velha ideia de que o preso custa caro, de que o tráfico não é visto como crime violento. Nossa legislação quer punir, mas não pune. Quer proteger, mas não protege.

Como deveria ser?
O que o país precisa encontrar é uma pena dura o suficiente para servir como elemento de intimidação, de punição e também de recuperação. Não é o que temos hoje.

E internações compulsórias?
O usuário só pode ser internado quando constitui um perigo à sociedade. O indivíduo que é socialmente perigoso precisa sofrer algum tipo de restrição.

Fonte:
FOLHA DE SÃO PAULO | COTIDIANO
JUDICIÁRIO | SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Deve ser permitida a internação compulsória de viciados em crack?

Prescrever internação voluntária é ingênuo

A disseminação do comércio e do consumo do crack na sociedade brasileira é um fenômeno não mais passível de contestaç ão, atingindo tanto a população urbana quanto a rural. A despeito de relativa prevalência entre os consumidores de baixa renda, o crack já é demandado por segmentos da classe média, envolvendo homens e mulheres, jovens e adultos.
Estamos diante de uma importante mudança no mercado das drogas ilícitas no Brasil, que se encontra revigorado pela introdução de nova mercadoria, que atrai consumidores ávidos e compulsivos.

É uma droga muito atrativa não apenas pelo baixo preço, comparativamente à cocaína em pó, como também pelo prazer que proporciona a seus usuários.
A despeito do fato de o crack ainda não ser a droga mais consumida no Brasil, é imperativo reconhecer que os malefícios sociais gerados por ela são muito superiores aos das demais drogas ilícitas comercializadas no território nacional.
Seus impactos estão presentes tanto na segurança pública quanto na saúde pública. Há, por exemplo, uma relação muito estreita entre comércio do crack e crescimento da incidência de homicídios.
Isso porque o comércio do crack tende a intensificar os conflitos entre os atores econômicos envolvidos, em especial entre vendedores e consumidores. O grau de endividamento no comércio do crack é superior ao verificado no comércio da cocaína em pó e da maconha.
Num contexto social em que a violência é pouco controlada pelos traficantes, a proliferação de homicídios torna-se inevitável.
No que diz respeito à saúde pública, as consequências do consumo do crack não são menos graves.
É uma droga que gera proporcionalmente um contingente de usuários compulsivos e, por que não dizer, vítimas de dependência química em intensidade bastante superior às da maconha e da cocaína em pó. A proliferação das cracolândias nas cidades brasileira não é a única manifestação desse fenômeno.
Inúmeras famílias têm convivido diariamente com usuários que destroem suas c arreiras profissionais, seus laços de sociabilidade e atormentam as relações internas.
E é nesse aspecto que devemos rever a legislação brasileira, que restringe severamente a internação compulsória de dependentes químicos. A legislação está dificultando a busca de soluções mais adequadas para o problema.
Não há mais como negar que a compulsividade gerada pelo crack é bem superior à das demais drogas lícitas e ilícitas consumidas no Brasil. Prescrever que o usuário do crack que se encontra em estágio avançado de dependência da droga somente poderá ser internado para tratamento mediante sua manifestação voluntária é atitude completamente ingênua.
É chegada a hora de deixarmos as ideologias de lado e encararmos a realidade de frente.
Faz-se necessário que o Congresso Nacional viabilize as mudanças legais necessárias para que o poder público, em parceria com a sociedade civil, possa expandir a metodologia de tratamento dos usuários do crack, fortalecendo o atendimento ambulatorial e oferecendo a internação, mesmo que compulsória, por determinado tempo para os casos mais graves.

Folha de São Paulo - LUIS FLAVIO SAPORI  é coordenador do Centro de Pesquisas em Segurança Pública da PUC Minas e secretário-executivo do Instituto Minas pela Paz. Foi secretário-adjunto de Segurança Pública de Minas Gerais (2003-2007). É coautor do livro "Crack, Um Desafio Social" (ed. PUC Minas).

terça-feira, 21 de junho de 2011

A voz contra a liberação das drogas

No debate sobre a descriminalização da maconha, o psiquiatra Ronaldo Laranjeira representa os que não apoiam mudanças nas regras atuais
Mariana Barros | 22/06/2011

Psiquiatra Ronaldo Laranjeira na Cracolândia: longa experiência com usuários
Fernando Moraes
Na polêmica sobre a descriminalização da maconha, não faltam argumentos defensáveis tanto do ponto de vista de quem é a favor quanto dos que são contra uma mudança na legislação atual. Essa discussão, que andava adormecida, voltou à cena por causa de manifestações como a Marcha da Maconha, realizada em maio na Avenida Paulista com o apoio de cerca de 700 pessoas, e com a estreia, no início deste mês, do documentário “Quebrando o Tabu”, do cineasta Fernando Grostein Andrade. Quem dá o tom da narrativa é o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que visita várias cidades do mundo para mostrar boas e más experiências em políticas relacionadas ao tema. O filme conclui que a descriminalização da maconha representaria um passo importante para diminuir o poder dos criminosos do narcotráfico. “Viver num mundo sem drogas é utópico, isso nunca existiu, mas podemos trabalhar para reduzir os danos”, afirma FHC, a certa altura do filme.
+ Oxi, a invenção mais recente do tráfico
No debate em torno do tema, o psiquiatra paulistano Ronaldo Laranjeira, de 54 anos, virou um porta-voz dos que não apoiam uma flexibilização na lei. Após mais de três décadas de atividade profissional dedicada ao tratamento de dependentes químicos, experiência que o colocou entre os maiores especialistas do país no assunto, ele está convencido de que, em se tratando de substâncias ilícitas, não há negociação possível: é preciso haver proibição total. Além de conhecer a fundo a política antidrogas de países como Suécia, Estados Unidos e Inglaterra, Laranjeira coordena o atendimento de mais de 100 pessoas adictas todos os dias em sua clínica particular e coordena 180 internações realizadas por sua equipe. É ainda fundador da Uniad, serviço na Vila Mariana especializado em drogas da Universidade Federal de São Paulo e autor do primeiro estudo clínico nacional com usuários de crack. “Mais fácil seria defender o direito de cada um fazer o que bem quiser, mas a saúde pública está em jogo”, diz 
Cena do documentário Quebrando o Tabu: Fernando Henrique Cardoso com armas apreendidas
Nas oportunidades que encontra para falar sobre o assunto, ele cita uma série de estudos para justificar seus argumentos. Uma dessas pesquisas mostra que uma em cada dez pessoas que experimentam maconha desenvolve algum tipo de transtorno mental. Além disso, uma vez liberada essa droga, Laranjeira avalia que o número de usuários subiria de estimados 5% para 15% dos brasileiros. O baixo preço — um cigarro custa 1 real — faria o consumo incidir sobre a parcela mais vulnerável da população: os adolescentes e as classes mais baixas. “É preciso pensar na sociedade como um todo”, afirma. Para o psiquiatra, o Brasil deveria se mirar no exemplo da Suécia. “A liberação nos anos 60 impulsionou o consumo e fez o país voltar atrás, passando a punir traficantes e usuários para retomar o controle da situação”, afirma.
A clareza de suas posições transformou-o numa espécie de estandarte antidrogas. “Virei o chato, o do contra, o careta de plantão”, comenta. Todos os meses ele recebe até sessenta convites para participar de debates, palestras e entrevistas em vários estados brasileiros. Em um dos eventos, organizado pelo jornal Folha de S.Paulo em outubro passado, saiu escoltado por dois seguranças depois de ter se sentido ameaçado de agressão por parte da plateia. Já foi insultado em blogs e fóruns da internet e considerado persona non grata por jovens universitários — hostilizado até mesmo por alunos da faculdade onde leciona, a Escola Paulista de Medicina. Por várias vezes foi minoria nas discussões. O tema até virou piada entre seus familiares. Um de seus três filhos, a caçula Lina, de 8 anos, criou um bordão para iniciar as imitações. “Olá, sou Ronaldo Laranjeira, sou contra as drogas e luto por você”, diz a menina em tom de propaganda eleitoral.

Anderson Barbosa/Folhapress

Marcha na Avenida Paulista: cerca de 700 manifestantes a favor da mudança na legislação
Nas décadas anteriores, estudando a dependência de fumantes e alcoólicos, ele enfrentou o lobby das empresas fabricantes de cigarros e bebidas, questionando a atuação delas e defendendo a regulação do consumo de seus produtos. “Era um diálogo difícil, mas eu nunca havia sido tão hostilizado como ocorre agora no debate sobre a liberação da maconha”, afirma. Embora muitas vezes se sinta solitário na discussão, o psiquiatra acredita estar do lado da maioria. Contabiliza a seu favor famílias de viciados, muitos pais de classe média e a maioria dos evangélicos. “Se houvesse um plebiscito, a descriminalização jamais seria aprovada”, aposta

sábado, 18 de junho de 2011

País deve focar prevenção às drogas, dizem especialistas

Especialistas no combate a drogas e álcool, reunidos ontem em evento do Ministério Público de SP, acreditam que o Brasil não está no momento de discutir se deve descriminalizar o uso de drogas, mas, sim, de debater a adoção de ações fortes de prevenção.
Para eles, sem sistema que evite que o número de usuários continue a crescer, não se pode pensar em descriminalizar, pois isso só ampliaria o total de dependentes.
A referência à descriminalização deve-se ao documentário "Quebrando o Tabu", com o ex-presidente Fernando Henrique (PSDB).
No filme, em cartaz, ele defende a descriminalização de drogas leves, o que combateu quando na Presidência.
Para Ronaldo Laranjeira, coordenador do evento e diretor do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Políticas Públicas do Álcool e Outras Drogas, a posição do filme não é a melhor solução.
"A pr ópria cracolândia mostra que não há criminalização do uso. As pessoas consomem ao lado da polícia, que não faz nada", afirmou.
"O uso público não poderia ser tolerado. Essas pessoas teriam que ser tratadas. Vamos discutir a criação de um sistema de tratamento e de prevenção. Esse é o tabu."
Ken Winters, do Departamento de Psicologia da Universidade de Minnesota e do Instituto de Pesquisas de Tratamentos da Filadélfia, defende o modelo adotado nos EUA -e criticado no filme por ex-presidentes do país.

Lá, o usuário é processado (sem importar a quantidade de droga). Dependendo do Estado, é punido com multa, liberdade assistida, serviço comunitário ou cadeia.
No Brasil, pela lei 11.343/ 2006, quem for pego com droga para uso pessoal pode ser advertido, ter de prestar serviço comunitário ou medida socioeducativa. Mas quem decide qual quantidade caracteriza "uso pessoal" é o juiz. Nos EUA, isso é definido por lei, diz Winters.
"S e você abre a porta um pouquinho, as pessoas vão querer abrir mais e mais."

Fonte:
Folha de São Paulo - TALITA BEDINELLI
DE SÃO PAULO

terça-feira, 14 de junho de 2011

O direito de não usar drogas

Recentemente, divulgou-se a opinião sobre o futuro da política de drogas no Brasil do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que defende maior liberdade de uso da maconha. Fernando Henrique disse que um mundo sem drogas é inimaginável, expressando a visão da Comissão Brasileira sobre Drogas e Democracia. Ao alegar que a sociedade conviverá sempre com as drogas, defende com uma clara distorção da racionalidade a ideia de que isso deveria tornar os usuários imunes ao sistema criminal. Teríamos uma inovação na área dos direitos humanos, na qual todos nós deveríamos ter o direito de continuar usando drogas ilícitas, independentemente das consequências negativas para o indivíduo e para a sociedade. Por essa visão, seria um abuso dos direitos individuais qualquer constrangimento ao uso de drogas.
No Brasil, a lei que regula o consumo de substâncias (Lei nº 11.343/2006) trouxe mudanças significativas, com menor rigor penal para o usuário. Ainda não se sabe se produziu alguma diminuição do consumo de drogas. Todas as evidências indicam o contrário. Em relação à maconha e à cocaína, somos um dos poucos países do mundo onde o consumo está aumentando. No mínimo, essa nova lei não impediu esse aumento. Estamos com maior liberdade para usar drogas, mas os usuários continuam tão desinformados e desassistidos de tratamento quanto antes.
A defesa do direito ao uso de drogas é uma visão por demais simplista e não leva em consideração a complexidade do uso de substâncias, em particular as modificações que o uso de drogas provoca no sistema nervoso central. Parte-se do princípio de que todos os usuários de drogas teriam plenas capacidades de decidir sobre o seu consumo. Não podemos afirmar que todos os que usam drogas estejam comprometidos quanto ao seu julgamento, mas podemos argumentar que uma parte significativa dos usuários apresenta diminuição de sua capacidade de tomar decisões.
As drogas que produzem dependência alteram a capacidade de escolher quando, quanto e onde usar. É ilusório pensar que um dependente químico tenha total liberdade sobre o seu comportamento e possa decidir plenamente sobre a interrupção do uso. É por isso que os dependentes persistem no comportamento, com grandes prejuízos individuais, para sua família e para a sociedade.
Se, por um lado, a opinião de Fernando Henrique carece de legitimidade com relação aos direitos humanos básicos, pois não existe um direito ao uso de drogas ilícitas, por outro, temos aspectos do debate que não foram mencionados. Por exemplo: existe uma relação entre saúde e direitos humanos. As Nações Unidas e a Organização Mundial da Saúde desenvolveram recentemente o conceito de que todos deveriam ter o direito ao mais alto padrão de saúde possível (right to the highest attainable standard of health). É um conceito relativamente novo, com não mais de dez anos. Afasta-se de declarações vagas sobre saúde e responsabiliza a sociedade e o sistema de saúde pela implementação de políticas que garantam a qualidade dos cuidados.
Recentemente o Estado de São Paulo deu um bom exemplo de garantia do mais alto padrão de saúde possível ao proibir o fumo em todos os ambientes fechados. O que se garantiu nessa nova lei não foi o direito de fumar, mas o direito de a maioria da população ser preservada do dano da fumaça. Mesmo os fumantes têm o seu direito a um mais alto padrão de saúde garantido ao ser estimulado a fumar menos. Esse foi um exemplo de como é possível termos intervenções governamentais que preservem o direito à saúde e ao mesmo tempo sinalizem uma intolerância ao consumo de uma droga que mata um número substancial de cidadãos.
Experiências de sucesso em outros países apontam na direção de combinar estratégias, do setor de Justiça com o setor educacional e de saúde, para que se obtenham melhores resultados. Leis que sejam respeitadas e fiscalizadas tendo como objetivo o bem comum. A Lei Seca, que proíbe o beber e dirigir, identifica o indivíduo e impõe sanções, também pode ser um exemplo, pelo número de vidas salvas até o momento. O fato de se criar uma intolerância com o fumar ou com o beber e dirigir em nenhum momento produziu desrespeito aos cidadãos que fumam ou bebem.
No Brasil não temos uma política de prevenção do uso de drogas. Deixamos os milhões de crianças e adolescentes absolutamente sem nenhum tipo de orientação sobre prevenção do uso de substâncias. Fornecemos muito mais informações sobre o meio ambiente do que com os cuidados de saúde. Temos uma boa política de prevenção ambiental, mas não temos com relação às drogas. Não temos um sistema de tratamento compatível com a magnitude do problema, deixando milhares de usuários completamente desassistidos.
O tema proposto por Fernando Henrique Cardoso é importante, traz a oportunidade de debatermos que tipo de política construir para a próxima geração. Queremos uma sociedade em que o uso de drogas seja um direito adquirido? Ou queremos uma sociedade muito mais ativa, em que o sistema de Justiça funcione em sintonia com os sistemas de saúde e educacional e possamos criar ações baseadas em evidências científicas para diminuir o custo social das drogas?
Talvez um mundo sem drogas jamais exista. Como também não existirá um mundo sem crimes ambientais ou sem violações dos direitos humanos. Isso, no entanto, não é desculpa para descartar o ideal e continuar a lutar pelo objetivo de um mundo melhor. Tolerar as drogas, banalizar o seu consumo não é a melhor opção para uma sociedade que valorize a saúde e os melhores valores de respeito à dignidade humana.
Ronaldo Laranjeira, professor titular de Psiquiatria da Unifesp, é coordenador do Instituto Nacional de Políticas do Álcool e Drogas (Inpad) do CNPq

Fonte:
Estado de São Paulo

domingo, 12 de junho de 2011

“FHC presta um desserviço à saúde pública”

Ronaldo Ramos Laranjeira, psiquiatra e coordenador do Instituto Nacional de Políticas do Álcool e Drogas do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq)

O Brasil não tem uma rede de assistência pública a dependentes químicos e facilitar o acesso às drogas apenas pioraria as condições de tratamento. Esse é o contraponto feito pelo psiquiatra Ronaldo Ramos Laranjeira à proposta de descriminalização dos entorpecentes defendida por personalidades políticas mundiais na semana passada, incluindo o ex-presidente FHC. “O que o Fernando Henrique está fazendo é um desserviço à saúde pública”, dispara.
Para Laranjeira, que também é professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), não faz sentido falar em descriminalização se o país ainda não tem o essencial pa­­ra lidar com a dependência química.
A descriminalização de substâncias psicotrópicas pode ajudar o país no controle do consumo de drogas?
O Brasil tem uma lei de 2006 que já fez uma certa descriminalização do usuário e definiu um maior aumento da pena aos traficantes. Acredito que não é significativo você criar uma outra lei mais branda se o governo não fizer a lição de casa, e ainda não se fez nem o básico, que é investir em prevenção e em tratamento. O Brasil não tem uma rede assistencial pública para lidar com dependente químico. Não temos nenhum programa oficial do Ministério da Saúde para o tratamento de dependentes do crack, por exemplo, ou para pessoas que sofrem de alcoolismo. Essa ausência afeta especialmente aqueles que não podem pagar um tratamento em uma clínica privada.
O que acha do envolvimento de líderes mundiais, incluindo o ex-presidente FHC, na divulgação da descriminalização ?
O que o Fernando Henrique está fazendo é um desserviço à saúde pública e aos valores da sociedade brasileira. Ele devia estar defendendo a proteção das famílias que têm esse problema com a criação de uma rede assistencial pública. Aliás, é preciso criar sistemas de financiamento para todo o setor de prevenção, que realmente não tem recursos. Não havia recursos na época do Fernando Henrique, não houve no mandato do Lula e não há agora. Quando se ouve a própria secretária nacional Antidrogas, doutora Paulina Arruda, falar que não há epidemia de crack no Brasil vemos que há muito amadorismo por parte do governo nessa questão.
Manifestações como a marcha da maconha podem influenciar a opinião pública sobre o modo de encarar a questão das drogas?
A opinião pública em geral é muito desfavorável à legalização das drogas. Se você fizesse um plebiscito hoje com certeza uma proposta de legalização perderia. Mas esse movimento envolvendo pessoas importantes tende a influenciar esse posicionamento e isso é realmente muito ruim para a saúde pública. Isso ocorre no mundo inteiro, é financiado por grandes investidores e pretende influenciar o governo e as Nações Unidas. No discurso deles a solução do problema parece fácil, é só você facilitar o acesso que as coisas se resolvem, mas eu penso que se você facilita o acesso, você aumenta o número de usuários e isso só aumenta o problema.
Quais seriam as consequências de uma possível legalização?
Tornar o acesso às drogas mais fácil seria prejudicial principalmente para a população desassistida, porque aquela pessoa de classe média que participa da marcha da maconha tem recursos. Se ela fica doente por causa de drogas, a família paga uma clínica, mas aqueles que não podem pagar pela assistência médica não têm para onde ir.
O relatório recentemente divulgado pela Comissão Global sobre Políticas de Drogas afirma que a guerra contra os narcóticos fracassou. Como o senhor avalia o desempenho das atuais medidas antidrogas ?
Não é verdade que há um total fracasso. A Suécia, por exemplo, tem um terço do consumo de drogas dos Estados Unidos, índices bem menores do que a média na Europa, e tem um modelo completamente diferente daquele que o Fernando Henrique está propondo. A Suécia não descriminalizou as drogas, mas também não prende os usuários.
Que medidas urgentes o Brasil deveria adotar para tratar o problema das drogas?
O que defendo é a criação de uma rede assistencial pública para as pessoas que usam drogas e investimento em prevenção. Há uma série de políticas que poderiam fazer a diferença na prevenção ao uso de drogas e nós ainda não as aplicamos. O Brasil ainda não fez o básico, então não faz sentido achar que liberar o uso de drogas vai resolver o problema.

Fonte:
Gazeta do Povo -  Jônatas Dias Lima